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A miolo desaguou no mar.
Me misturei, perdi o senso de fronteira. Onde eu começo? Onde termino?
Passei os últimos anos pensando mais do que fazendo, mas ainda assim, o pouco que fiz, me levou.
Queria voltar, quando cheguei aqui, o cais era eu.
Um eu tão poético, tão lírico, quase afogou meu lado “vei”.
Presa no bonito do feed, presa no utilitarismo da vida, presa na impecabilidade da palavra escolhida a dedo. Menos os mindinhos, que nunca consegui inserir na digitação de forma eficaz e por isso ficam sempre ao lado, inutilizados, observando.
Às vezes me sinto como esses mindinhos. Todo um potencial desperdiçado, esperando alguém notar e tomar uma atitude diferente, um convite que seja. “Participe, você importa.”
Quanta carência, quanto medo.
Delicadamente insiro o mindinho nem que seja pra apertar uma vírgula, totalmente desnecessária.
Percebo que ele serve pra apertar o enter, timidamente, do lado direito.
Dito isso, acerto o enter com força, como se dissessémos “estamos aqui, viu?”.
Por mais pontual que seja, sem cada enter, imagina que bagunça seria esse texto.
Me pergunto se faço o mesmo na vida. Julgo desimportante aquelas ações pontuais, que apesar de tão diminutas no espaço tempo, organizam todo o resto.
Repeti tantas vezes a necessidade de fazer diferente. Como quem quer se convencer do óbvio enquanto a vida segue intacta. E os mindinhos totalmente sem uso.
Cada passo retorcido, volto atrás.
Cada rasgo parece absurdo, remendo tudo depois. Como quem repuxa cada ruga com medo de existir no imperfeito.
Mas hoje não. Pode ser que seja a última curva antes da mudança completa? Não estou certa que não falharei.
Sigo resistindo. Meio degrau adiante. O mesmo mesmíssimo aprendizado que se repete. Igual de cor diferente.
Faço pelo menos esse combinado comigo: se eu falhar, vou falhar de novo. Lembro da tatuagem de um velho amigo: “fail again, fail better”.
01:24 da manhã. Aperto enter com o mindinho.
igual de cor diferente
penso que se os mindinhos existem, eles podem fazer diferença mesmo que conscientemente não seja notado
Afinal, o mindinho segura a barra de todos os outros dedos, você já percebeu como ele às vezes dói?
Um beijo.
Nada como a delicadeza e sutileza dos mindinhos. À beirada e para fora - são capazes de observar de um angulo único. Talvez o dedo com menos força física, talvez esta condição facilitou para que eles pudesse serem os dedos mais sutis da mão humana.
Tocando piano tive a sorte de compreender a importância deles. "Não me tirem meus mindinhos"- gritaria em La m (sei lá, foi o tom que me veio) caso me ameaçassem retirá-los.