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🔭#6 a dualidade é um ciclo

Luisa
Aug 18, 2022
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🔭#6 a dualidade é um ciclo

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lendo o livro “manual de limpeza de um monge budista” foi que aprendi que nos templos a poeira não se acumula por mais de 24 horas.

é necessário um movimento regular que visualiza e age diante o ciclo sutil de transformação diária: em que organização e bagunça coexistem a todo tempo, afinal, mesmo enquanto estamos tirando poeira, ela se acumula.


não tem começo, nem meio, nem fim

andei pensando sobre a forma como somos introduzidos à manutenção dos espaços - e sempre ao falar dos espaços, estou me referindo aos internos e externos.

como se fosse preciso esperar o caos, ou pelo menos um pouco dele, pra que tomemos uma providência. um grande desgaste - dentro ou fora, para que solicitemos algum reparo.

como os monges, não é preciso esperar a bagunça para organizar.

esse movimento regular de manter a ordem de forma contínua nos ajuda a acompanhar o caos que também está constantemente acontecendo.

quando o extremo se manifesta algo está em desequilíbrio.
(normalmente esse algo é a gente)

o extremo da bagunça se dá porque procrastinamos a limpeza muitas vezes seguidas. enquanto o extremo da organização se dá possivelmente porque adquirimos algum nível de compulsão pela ordem.

ambos os casos tiram nosso foco do que realmente importa: aproveitar nossos espaços.

aceitar a conformação da organização e bagunça como um ciclo me trouxe a leveza de que esse é um projeto que vai estar sempre inacabado.

então também não precisamos esperar a organização completa pra fazer o que gostaríamos.


um ciclo não é uma fila

a lógica linear que constrói nosso raciocínio separa os elementos e os organiza como se o primeiro elemento precisasse deixar de existir para que o próximo surja.

esse entendimento cria em nós uma ideia errônea de que a vida caminha, de forma isolada, para a morte, e posteriormente, com sorte, a morte caminhará para a vida, quando for a hora.

mas na realidade, desde que nascemos, estamos continuamente passando por processos de morte. e esses processos, físicos, mentais e espirituais, é que abrem espaço pra que vivam as novas versões de nós mesmos.

compreender o ciclo é, portanto, perceber a simultaneidade dos seus movimentos.
é entender o sistema que se forma pela relação de geração contínua entre seus elementos.


dançando com a ordem & o caos

a organização não é melhor nem pior que a bagunça, apenas diferente.

o lado que consideramos desconfortável numa equação dual não precisa ser visto como um elemento indesejável, afinal, se me recuso a conhecer the dark side of the moon, conheço apenas a metade.

perdemos o poder de integração do paradoxo quando insistimos em enxergar os opostos como elementos isolados, e tentamos anular um deles porque o outro é mais conveniente de ser experimentado - mesmo que momentaneamente.

o desconforto também se relativiza com o passar do tempo. uma escolha desconfortável agora pode gerar resultados confortáveis no futuro e vice-versa.

e portanto, para integrar os paradoxos é preciso apenas reconhecer a natureza inseparável dos opostos, e os elementos da dualidade como faces opostas de uma mesma moeda, sofrendo variações contínuas de acordo com contexto e tempo.


experimentar gera outras experiências

se abrir para a inteireza da dualidade nos ensina quem somos quando estamos do outro lado.

aceitar que o aprendizado verdadeiro só é possível através de uma experiência completa, e portanto dual, nos ajuda a desejar o desconforto e romper as comodidades da inação.


paradoxos não são ilógicos

fomos ensinados, de certa forma, a entender que a contradição é incoerente. que a presença de um extremo anula, automaticamente, a presença do outro extremo, e assim sendo, acreditamos na falácia do isso OU aquilo.

se analisamos somente isso OU aquilo separadamente, perdemos a chance de analisar o sistema como um todo.

se isso E aquilo fazem parte de um sistema único, de certa forma, eles podem ser vistos como sendo a mesma coisa, em condições opostas.

e por isso, se você fecha a porta pra um, nenhum dos dois entra.

assim como a água é uma substância que se transforma em neblina ou geleira a depender das condições em que se encontra, caos e ordem são estados de arranjamento que também sofrem alterações em conformidade com o contexto.

(é um exercício e tanto definir um título para a escala dos opostos.

assim como caos & ordem podem ser definidos como estados extremos numa escala de arranjamento, tristeza & alegria de contentamento, dúvida & certeza de convicção…)

seja o oposto que for, a busca pelo estado neutro facilita a adequação e fluidez, já que seus extremos podem resultar em estados sólidos e rígidos ou voláteis e frágeis.


a dualidade dentro da dualidade

me parece mais fácil encontrar o ônus dentro do bônus do que encontrar o bônus dentro do ônus - literalmente. mas ambos estão lá.

dentro do caos também existe ordem.
dentro da ordem também existe o caos.

se você considera a bagunça ruim e a organização boa, te pergunto:
como sua bagunça te beneficia? como a organização te atrapalha?
como isso muda conforme o tempo passa?

(esse exercício funciona pra qualquer paradoxo)


o benefício da dúvida

se a dualidade não termina numa única bifurcação, mas continua ramificando sombra e luz continuamente, podemos escolher onde focar.

se dentro daquilo que é belo coexiste o bonito e o feio, e dentro do feio: bonito e feio, a interpretação fica a nosso critério.

no entanto, o copo meio cheio não te mata de sede, por isso o cérebro insiste em focar no copo meio vazio.

um mecanismo de sobrevivência que não se enquadra nos privilégios modernos, mas continua nos forçando a ter foco e memórias mais nítidas quando se trata de situações difíceis.

por isso desejar o desconforto educa a nossa mente primitiva frente a desafios saudáveis que são absolutamente necessários pra nossa evolução.

por isso há de querer a experiência completa: com coragem & medo.

ciente que a paisagem é sempre um lado da estrada por vez, mas os dois existem ao mesmo tempo.

ciente que podemos escolher como, e pra onde olhar.

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Manoela Carvalhaes
Aug 18, 2022Liked by Luisa

Amei! Vou ler e reler.

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1 reply by Luisa
Crisci.ferr | Vivendo Away
Writes Crisci.ferr’s Newsletter
Aug 19, 2022

Eu amo seus textos. Você podia contar pra gente como você conecta suas ideias. Como você constrói isso na sua mente? Eu amaria saber. ❤

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