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Cada escolha que eu tomo é uma semente.
Cada ação que repito, mantém a escolha viva.
Como eu amo encontrar caminhos nas histórias da semente.
Encontrar as palavras como quem suja as mãos de terra.
Cada palavra que eu escrevo é uma semente.
Cada frase mantém a palavra viva.
Você é a terra nesse cenário?
Vou cuidando pra que as ideias se transformem em raízes.
Quando você lê, alguma coisa cresce.
A ação é o sol que torna possível.
Vou desenhando essa paisagem com cores indomesticáveis.
Você vê comigo.
O gato é o desejo que a ideia sente de pular no telhado e descobrir novos mundos.
Fecho os olhos e a grama é a sensação da palavra na hora certa.
Fecho de novo, o silêncio comporta todas as possibilidades.
O vento é o espaço dentro de mim em movimento, e carrega até aquilo que esqueci pra ser plantado em outra terra.
As formigas são as vírgulas, a nos interromper com sua presença minúscula como se dissessem, “olha, respira”.
E respiro.
Um jeito de falar, uma coisa que não sei: interrompe o fluxo com a aflição visível de uma mariposa recém-nascida.
Busco formas, cores. Vou descobrindo enquanto emolduro essas visões dentro de mim.
Parece um inseto. Uma barata gigante que pousa a 45cm da minha mão como se exigisse que eu fizesse alguma coisa – urgentemente.
Me meto nessa causa.
Vou atrás da barata como quem foge da repulsa pela própria sujeira.
Nossas existências se misturam.
Enfio a cara embaixo do sofá e vejo o pior de nós.
Preciso varrer essa casa e por isso releio todo o texto.
Quero continuar.
Investigo os porquês das frases curtas que organizam ideias ofegantes.
Aparentemente manter o raciocínio por um parágrafo inteiro me impederia de abrir outras janelas.
A cada frase começo tudo de novo.
Procuro objetos pra definir sentimentos.
A barata já está morta – eu acho.
Joguei no lixo como quem apaga uma sentença que não gostou de escrever.
Amarrei numa sacola como quem limita uma ideia ao fracasso.
Enquanto tomava banho comparei baratas e joaninhas e enxerguei a injustiça humana.
Deixei escorrer pelo ralo meu desprezo pela minha própria ignorância.
Têm palavras que são mais sujas que outras, quero gostar de todas.
Charles passou dois meses comendo maçãs, mesmo odiando.
Sua filha perguntou “pai, mas você não odeia maçã?”
_Sim, por isso mesmo. Quero aprender a gostar.
Não consigo ficar triste por matar baratas.
Formigas um pouco, a maioria foi sem querer.
Percebo a inocência com a qual sou capaz de tirar uma vida.
Será que a barata morreu?
Convido a hipocrisia pra sentar.
Saltos altos, se olhando por um espelho oval com detalhes torneados numa moldura larga de madeira vermelha coberta com verniz brilhante em cima da penteadeira da minha avó.
Esse cenário me transporta à minha infância, retomo o poder de destruição de uma criança que arranca mudas e dentes como quem arranca o pirulito da haste de plástico, como quem arranca a vida de uma combinação improvável das sementes dos seus pais.
Onde tudo começa.
Na história que contaram: uma grande destruição data o início de todas as coisas.
Sorrio.
Penso em Khali e entendo porque evoquei a energia da semente e matei a barata no final.
Me sinto humana.
Com a coragem restituída pela destruição que perpetua outras formas de ser.
🔭#10 nasce, perde, tu se transforma
Li sua news pela segunda vez e peguei me pensando em quantas sementes perdemos ou deixamos no saquinho que são os pensamentos. É assim que imagino quando teimo em arar a terra e escrever as palavras como se elas fossem a água que sai do regador.
É libertador poder olhar nossas histórias como sementes prontas a germinar.
Ter a ideia da barata e da janela cai bem com uma outra ideia que surgiu ao ler hoje seu texto.
"Abrir horizontes com inseticida nos nossos medos."
queria comentar mais sinto que ainda não conheço palavra para isso, então mesmo sem sabe comento sobre não saber comentar
amo jeito com abre as janelas do cérebro e faz entrar luz dentro de casa!